Enfim a viagem!

"Parentes e amigos resmungam: Que Loucura!
Mas sei que o motociclista viajante provavelmente causa inveja nos outros, despertando seus desejos suprimidos de liberdade e aventura, desejos de enfrentar adversidades, vencer desafios, vivendo, como vivem, num mundo cada vez mais previsível" (José Albano em Manual do Viajante Solitário)

"A vida é uma aventura ou não é nada" (Helen Keller)

A partida (14 de julho, 8h)



Seguindo na direção Formosa-GO, BR 020, a aventura começa já com muito calor. Um pouco tenso com a pequena autonomia da moto.
Dormi a primeira noite em Luis Eduardo Magalhães-BA(535 km rodados/dia).
No dia seguinte, via BR 242, peguei o rumo de Lençóis-BA.Neste dia rodei 551 km.
Em Lençóis passei dois dias. Fui a um ponto turistico pertinho, dentro da cidade, nada de muita caverna, aventura, caminhada etc.
Uma reenergização na água, com bela paisagem, uma cerveja= estou feliz e satisfeito.




Depois de arrumar pequenos problemas elétricos na BlueNote, teleguiado por meu mecânico de Brasília, estamos prontos para seguir para o litoral de Sergipe.Peguei a BR 242, em Feira de Santana-BA, BR 116 e BR 101.
veja as fotos de Lençóis-BA


Cheguei no lusco-fusco à Praia de Abaís-SE(537 km/dia).
Em época de baixa temporada eu era o único hospede na pousada.
Praia deserta é legal, mas sem opção para lanchar ou tomar uma cerveja de noite é uma praia deserta demais! O bom da hospedagem é que a pousada era extamente de frente para o mar, piscina, cozinha no apartamento(para fazer miojo para o jantar)...não posso reclamar...
Conheci a região, e cheguei a almoçar no litoral de Aracaju. Era perto e o passeio por aquelas estradinhas litorâneas foi muito agradável.


Após dois dias e três noites de descanso, jantando miojo, segui para Salgueiro-PE.
Liguei para um Posto da Policia Roviária pedindo informações sobre a melhor opção de estradas para chegar em Salgueiro. A informação que recebi é deveria pegar a BR 110, ao invés da BR 116,  porque tinha mais policiamento.
veja mais fotos de Abaís-SE

Nada de policiamento, e todo mundo estava voltando, achei estranho, mas seguindo ao contrário do fluxo segui para Salgueiro.
Em Salgueiro dormi em um hotel no trevo que tem saída para BR 116 rumo ao Ceará(526 km/dia).
De Salgueiro liguei para um tio, no Ceará, intermediado por meu primo, perguntando sobre o estado das estradas estaduais, pensei sair da BR116 e seguir por dentro do estado via Quixadá e Morada Nobre, assim, pensava eu, fugiria de muito transito e buracos na BR, de quebra conheceria outra região. A informação que as estradas estaduais cearenses valiam a pena serem conhecidas e me conhecerem.
De manhã peguei o rumo de Icó. Passei da saída da BR, sem saber, e mais na frente parei em um posto para abastecer, molhar o rosto e o casaco. Um calor dos infernos!!!!
Um camioneiro me disse que teria outra saída à frente, mas outra pessoa me falou que neste outro caminho havia muitos assaltos. Pesei os riscos da aventura e segui mesmo pela BR 116.

A chegada em Fortaleza(21 de julho, 16h30)

Depois de horas de sol escaldante passo por Horizonte, 40km de Fortaleza, viro à direita, na Estrada da Coluna que liga BR116 à cidade de Cascavel e praias da região, paro na beira da pista para tomar a cerveja da chegada, sigo 12km e estou na Preaóca(550 km/dia).
Preaóca(Oca do Preá) onde passo minhas férias desde 1970. Ali minha família tem um sítio, eu, junto com minha irmã, sou dono de um pedacinho de mato. Tenho doces lembranças visuais, olfativas, sonoras e gustativas de tudo que vivi ali...inclusive as marcas de algumas quedas de árvores, de cavalos e queimaduras de mel quente de rapadura...é claro!
Minha família estava a minha espera.
Na foto aérea é possível ver melhor a região da Preaóca, a seta vermelha indica a casa onde aparece a moto em minha chegada. Qualquer dia faço uma casinha na beira desse açude...
A primeira parte da viagem foi cumprida. Cheguei onde queria chegar, agora é curtir e depois começar a pensar na volta...sem pressa...



Passei 26 dias no Ceará, principalmente em Fortaleza, mas boa parte desse tempo fiquei no sítio. Curtindo açude, tomando caipirinha ao anoitecer, admirando a lua cheia, mas principalmente demarcando os limites do meu pedaço de mato para futuramente mandar passar uma cerca. Foi bem árdua esta missão.
Em Fortaleza a moto surtou! Pane elétrico! Guincho para um mecânico de confiança e o diagnóstico foi que o chicote elétrico, que é embutido, estava sendo "mastigado" por farpas do furo feito no guidon para passagem da fiação, causando muitos curtos. Foi praticamente o único problema que enfrentei com a moto.
Sanado o problema vamos pegar estrada para Natal!


 veja mais fotos de Fortaleza-CE

O início da volta

Dia 16 de agosto comecei meu retorno.
Primeira parada Praia de Ponta Grossa-CE, município de Icapuí, já pertinho da divisa com Rio Grande do Norte(200km). Esta foi uma dica do também fotógrafo Maurício Albano, que tem uma casinha na beira da praia naquela região, na praia de Picos. Eu queria ficar uns dois dias em uma praia tranquila e bela que estivesse no meu caminho entre Fortaleza e Natal-RN.





Linda! Foi um regozijo visual!
Bacana mesmo era o nome da pousada: O Refúgio Prometido(quem prometeu cumpriu!!)

veja mais fotos da Praia de Ponta Grossa-Icapuí-CE

Da praia de Ponta Grossa, depois de dois dias de belas paisagens e duas noites com fome, porque não tinha onde comer nada à noite, segui viagem para Natal-RN. Arrisquei usar a gasolina que o rapaz da pousada me vendeu já que em Icapuí os postos estavam fechados esperando uma passeata política para o outro dia.
Peguei a estrada rumo a Natal via Mossoró. Bom demais pegar novamente a estrada!

Em Natal

Natal era parte do meu roteiro família, desta vez a parte paterna. Tios e primos.
Fiquei na Praia de Ponta Negra, perto do mar e dos familiares(340 km).
Conheci duas praias mas distantes. Não fui de moto, o que foi uma pena, mas fui com um tio querido, botando os papos em dia e misturando álcool ao sangue da família.
Fui à Barra de Cunhaú e Jacumã/Muriú.
veja mais fotos de Natal_RN



Véio Chico! Lá vou eu!

De Natal segui para o Rio São Francisco,  cidade de Santa Maria da Boa vista-PE. Além do "véio Chico" escolhi esta região por ser produtora de vinhos.
A idéia era mesmo ir para a cidade de Remanso-PE, também na beira do Rio São Francisco, mas um motociclista da região indicado como contato em uma lista de motociclistas que faço parte me disse que a saída da cidade não estava em bom estado. Desisti de Remanso, por enquanto....me espere que um dia eu vou!
Mudei o rumo mantendo a intenção de pedir benção ao rio que faz parte de nosso imaginário de nosso cancioneiro.
Saí de Natal pela BR 101, mais longe, mas eram 450km de pista dupla. Pista dupla é bom demais!!!
Mas no caminho estava prevista uma passada por Caruaru-PE, para ver Luiz(o Gonzaga), filho de Januário e os mestres do artesanato, mestre Vitalino e outros.. Isto iria depender do ritmo da viagem.
Cheguei em Caruaru eram 13h...entrei na cidade. Depois das visitas segui viagem. Dormi em Arcoverde(535km/dia) e amanheci seguindo para Santa Maria da Boa Vista-PE(546km/dia).





Véio! Cheguei!

Não vi nada de especial na cidade de Santa Maria da Boa Vista, o rio era, para mim, o que conferia significado. Passei a tarde na beira do Véio Chico, dormi ali apenas uma noite, diferente do que eu tinha planejado inicialmente porque não gostei da cidade. Segui para Lençóis-BA via Petrolina e Juazeiro, mas antes passei em uma vinícula para conhecer.
8h30 e eu já tinha dois copos de vinho em minhas idéias...






Passei por Petrolina e Juazeiro e segui pela BR 407 para Lençóis-BA, gostei tanto que coloquei em meu itinerário uma passadinha na volta.
Perto de Capim Grosso fui orientado a seguir por um caminho mais curto. Foi um erro. Peguei um trecho muito esburacado. Para se ter uma idéia apenas a paisagem era digna admiração. Levei um tombo, sorte que estava devagar, minha auto-estima e o equilíbrio emocional ficaram no chão, além do comando-avançado que empenou, claro.
Mais à frente, no cruzamento com a BR 052, peguei para Itaberaba via BR488, foi a melhor opção. Foi um tapete correndo por baixo da moto. Em Itaberaba, 617 km rodados naquele dia,  fiquei em um hotel bacana que até carregador para minha bagagem eu tive, foi a primeira e única vez durante toda a viagem. Já estava anoitecendo e era a melhor decisão.
Depois de reforçar o tornozelo torcido na queda com uma tornozeleira e uns emplastos de salompas segui viagem para Lençóis, via BR 242, estava pertinho, 136km.


Lençóis novamente! Estou voltando para casa!

Desta vez nem procurei pousada, fui direto para a que fiquei da primeira vez. Bingo! Fiquei com um apartamento de frente para a mata, perdi o frigobar com cervejas geladas, mas ganhei no visual. Eu gosto disso!
Evitei novamente grande aventuras ecológicas. Eu gosto mesmo é de sossego. Nada de cavernas, longas caminhadas pela mata e etc. Optei por 40 minutos de caminhada, foi muito para o meu tornozelo em recuperção, e uma visita ao Ribeirão do Meio.



No caminho do rio tem dois pitstops ecológicos. Na ida uma água. Na volta caldo de cana moído no braço e uma cervejinha na rede. Ninguém é de ferro!
O ponto alto foi um Nhoc ao Pesto regado com solos melódicos de Miles Davis...divino!

 Veja mais fotos de Lençóis-BA

Luis Eduardo Magalhães-Brasília

Na saida de Lençóis segui por aquela pequena estrada até a BR 242. É uma delícia estar em suas curvas, baiana sensual, pena que sejam apenas 12km.
Senti muito frio naquele amanhecer da Chapada de Diamantina. O visual é belo e exuberante.
Depois que o tempo esquentou um pouco a viagem ficou agradável.
Luis Eduardo Magalhães lá vou eu.
Para simplificar fiquei no mesmo hotelzinho, um meia boca decente, o bom é  minha moto ficou em um estacionamento interno a 30 metros da porta do quarto.

Brasília! To chegando...

Eram 7h do dia 28 de agosto. Parti de Luis Eduardo e peguei a BR 020.
A viagem chegou ao fim. Esta viagem!
O trecho BR 020 rumo à Brasília foi com certeza o trecho mais perigoso do ponto de vista do transito na estrada. A quantidade de caminhões não era absurda apesar do final da colheita do algodão. O perigo estava nas várias camionetes voando pela estrada achando que todos os outros veículos deveriam estar sincronizados com seus planos, direções e velocidade. Fui obrigado a frear algumas vezes diante das ultrapassagens imbecis na outra mão, e por duas vezes passei para o acostamento para que os "pilotos" passagem com suas máquinas. Tudo na maior tranquilidade, eu seguia na faixa de 110 km/h.
Nesta parte da estrada eu percebi como tive uma viagem super abençoada, com tudo acontecendo na maior harrmonia. Pensei isto porque neste momento rodei mais 70km sem um posto de gasolina e muitas vezes em um imenso vazio, apenas os restos do algodão de um lado e do outro.
Quando entrei no Goiás os Ipês me saldaram. Achei que deveria parar e agradecer a acolhida. Parei e fiz uma foto. Parecia Ipês em final de festa. Não faz mal, às vezes vale mais o significado, do que realemtne a realidade.




Nesta região me deparei com mais arbustos com as mãos estendidas a pedir água para os céus. Pode ser impressão minha, mas aqui tem uma certa altivez que os arbustos do nordeste perderam, se é que tiveram.




Brasília! To chegando...
Ao chegar em Sobradinho-DF  me deparei com os alucinados de Brasília. Todos correm desesperados como se o fim do mundo fosse hoje!



Desacelerei.
Estava chegando de uma belíssima aventura, não queria me contaminar com aquela loucura.
Entrei em Brasília e antes de estacionar embaixo do meu bloco passei em três lugares. Primeiro nos mecânicos-amigos, que me acompanham em minha aventura motocilistica desde minhas CBs 400 e 450DX: Naldo(esquerda) e Anselmo(direita).



Depois passei nos mecânicos-amigos, aqui representado por Jr, mas ainda tem o Paulo, Eduardo e Vinicius. Há mais de 27 anos meus carros estão sob a responsabilidade desta turma. Todos participaram dos preparativos e acompanharam torcendo pelo sucesso da aventura.



Uma cerveja para relaxar-chegar no Carneiros e Picanhas, da 216 norte, dono cearense(de volta aos símbolos e significados) e assim terminou esta aventura.



Foram 7.000 km rodados e  44 dias.
Cheguei.
28 de agosto, 17hs.
Veja no mapa todo o trajeto

Veja também:
Como tudo começou
Preparando a viagem
Palavras ao vento
Fotos-post
Fotos descritas


4 comentários:

  1. Seu relato me deixa cheio de vontade de pegar a estrada novamente! Barabéns pelo blog! Abraço, Zé Albano

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  2. Respostas
    1. Obrigado Dionio pela visita e por compartilhar o prazer de viajar de moto.

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